18 de janeiro de 2015

não qualquer palavra

O’ABRE ASPAS de um livro a outro


“Preocupada com as crianças que atualmente recebem tantos rótulos (e mesmo diagnósticos) negativos – hiperativos, impulsivos, desatentos, indisciplinados, entre outros –, Gloria Kirinus propõe uma mudança de enfoque. Para ela, a criança é um ser em estado puro de linguagem e é preciso escutá-la melhor para perceber os ‘sintomas’ de criatividade e inteligência que estão por trás de um comportamento à primeira vista inadequado.” Expõe Angela Leite de Souza no primeiro capítulo da série que compõe o livro Poesia para crianças: conceitos, tendências e práticas, org. Leo Cunha, no qual participam juntamente Carlos Augusto Novaes, Gláucia de Souza e Maria Antonieta Antunes Cunha. “Uma das causas desse descompasso estaria no fato de que o fascínio que a criança sente pela palavra e pela multiplicidade de imagens que ela lhe suscita costuma ser reprimido na sala de aula.” (2013: 22-23)

II

“O que eu pediria para pais e professores é que, entre espaços e horários fechados, deixem a porta entreaberta para a escuta da poesia.” É o que responde Gloria Kirinus, no livro Synthomas de poesia na infância, observando e refletindo sobre casos de rimite aguda, delírio verbal, estado contemplativo, devaneio crônico, analogia intensa, isolamento fabuloso, surtos de genial ingenuidade, abundante riso, acesso de perguntas e catapora inventiva... “Quando fechamos a porta da sala de aula ou qualquer outra porta da vida privada, ocupando todos seus vazios, normalmente bloqueamos também a possibilidade de escuta da poesia. Pais e professores de crianças pré-alfabetizadas teriam muito a ganhar se soubessem receber a poesia de viva voz, aquela poesia que inventa seus ritos recuperando a unidade do homem primordial que cantava e dançava a palavra. Não qualquer palavra, mas aquela que pulsa no ritmo de sístole e diástole numa intenção de se organizar no mundo.” (2011: 68)


III

“Agora que caminhamos para o fim, quero lhe contar um segredo e fazer uma confissão.” Escreveu Elias José, nas páginas de Poesia pede passagem: um guia para levar a poesia às escolas. “Antes, eu tinha um caderno de poesia com espaços para cópias e anotações, vários cheios. Hoje, tenho programas no computador para copiar tudo o que leio e gosto. Gosto de enviar cartões, cartas e e-mails com poemas, meus e alheios. É uma forma bonita de presentar e até de elogiar os amigos. Poesia bonita é para ser multiplicada, distribuída, com nome do autor, editora e sem erros. Que tal entrar em mais esse jogo gostoso?” (2003: 97)

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