28 de março de 2014

mar de sons e cores

Dobras da Leitura 49, out. 2007


Marinho tinha um sonho, desde pequeno vida afora, carregando-o no nome e no ouvido que ouve a concha de rumores venturosos que o pai lhe dera. Marinho pescava horizontes dos confins mais líquidos, desde menino, ouvindo loas que tangiam areias alvas, corais cobertos de histórias, encantos e naufrágios... “Marinho cresceu com aquele oceano enchendo seu coração marujo, mesmo quando andava em terra firme” e, sob o claro calor do sol, seu caminho se fez por uma embarcação de quatro rodas por cidades e cidadezinhas. Aportava lá aqui acolá com a trupe de artistas de um alto sertão.


Das mambembadas e folguedos, Marinho compartilhava seu aquário de fantasias com o povo, com as crianças encharcadas de curiosidade e com os velhos que esperavam a rede de histórias e alegrias ser estirada. Uma noite, porém, barbas brancas já, os monstros marinhos da recordação levantaram ondas e o desejo gigante de fazer quilômetros e quilômetros de estrada em curta passagem para o mar. Foi. Enfim, o mar! O mar da princesa dos cabelos escorrendo dos ombros ao azul infinito...


Inventando lenda, André Neves amadurece igualmente imagens que estão na textura do seu fraseado e nas ilustrações serenamente exuberantes. Parece mesmo que o autor mergulha por pigmentos e sílabas, manipulando e moldando um contorno brioso, a partir de dentro das palavras e das cores. Há tempos, André nos tem deixado de olhos arregalados e, cada vez mais, tem sensivelmente mergulhado em uma equivalência plástica de sonoridades ricas. Do visual a um relevo tal de estalos e dígrafos na língua, os sons na prosa de O capitão e a sereia (Scipione, 2007) oscilam entre guturais-e-nasais profundos e alveolares-palatais molhados, com vogais ecoando ondas, mar e ar.


26 de março de 2014

imagens de mar e ar

peter o.o sagae


Ana Maria Machado estava a contar... Um elfo que não era apenas ares e asas, mas possuía toda a curiosidade sobre as pedras preciosas que pudesse encontrar. Uma libélula contou a ele dos restos de um barco náufrago na areia: quais tesouros poderia lá encontrar?


Encontrou uma caixinha de madrepérola e coral e dentro dela... Uma sereia a cantar e a chorar a sorte como um peixe fora da água. “Por favor” a sereia sussurrou, “ponha-me de volta no mar antes que outro sol nasça.” Mas o elfo já não podia, sereias têm encantos.


“Você é a joia mais rara e preciosa que já vi, o tesouro mais brilhante que já piscou para mim, e canta a canção mais suave que já visitou meus ouvidos.” 

A frase flutua, entre ondas de páginas e luas do livro O elfo e a sereia (1982), em sua quinta edição com imagens sopradas por Elma (Global, 2010), para a epígrafe que Adriana Lisboa escolheu para A sereia e o caçador de borboletas, com ilustrações de Rui de Oliveira (Rocco, 2009).


Adriana (de Lisboa?) veio contar de uma embarcação que, há trezentos anos, deixou o porto ao norte de Portugal. Entre os tesouros que transportava, o mais valioso era a esperança de voltar à casa, às areias, aos braços das mulheres... No entanto, um boato incomodava os marinheiros com a velocidade do silêncio. Eles só conseguiriam regressar, quando dois mundos encontrassem...


Como peixe e pássaro, finas escamas e leves penas, as asas do azar, outra vez, sobrevoam as lendas inventadas pela literatura para crianças.

24 de março de 2014

deram os homens a sonhar

O.O Sagae: Ilustrações Comparadas


Os olhos de Marinho, por André Neves, no livro O capitão e a sereia (Scipione, 2007), traduzem “a vontade de sentir o corpo molhado pelos encantos aquáticos”. Ora, em grande parte das línguas neolatinas, o mar não é um substantivo masculino e somente uma canção portuguesa, com versos de Vitorino e Hélia Correia, afirma que

“por tantos homens atrair
tem la mar de ser mulher
com voz de sereia os chama
com segredinhos de dama
deles faz o que bem quer”


Os olhos de quem não sabe nadar ou voar, por Rui de Oliveira,
em A sereia e o caçador de borboletas, de Adriana Lisboa (Rocco, 2009).

21 de março de 2014

da cor de amoras e âmbar, infinito mar

Peter O. Sagae


No mar de páginas, o que mais quer o leitor é encontrar uma história. Uma história com movimento irresistível de ondas e episódios que pouco a pouco o vão puxando para longe do primeiro parágrafo. Bem o efeito desse balanço mágico tem a prosa de Eloí Bocheco que há muito tempo não lia, nem comentava. E agora andei à RUA ÂMBAR (Formato, 2013) com delicadas ilustrações, quadrinhos e vinhetas de Márcia Cardeal. A escritora permite a todos saborear a sua linguagem carregada de amoras, miniaturas e novas moradas, sempre dentro de um projeto literário que se definiu muito antes dos livros caminharem aí afora publicados.

Há mais de quinze anos, Eloí escrevia crônicas investidas de narrativa e capricho poético, no jornal A Notícia, de Santa Catarina. Seus poemas para crianças possuem a voz de acalanto e brinquedos brasileiros. A ficção que sai do seu lápis, ou das letras tamboriladas no teclado do computador (na verdade, eu nunca soube o seu segredo), reafirma sua representação de mundo que é o processo de descoberta e encantamento das personagens com a lembrança de coisas vividas e inventadas, suas feridas felizes, o ritmo cotidiano a manter as boas afeições...


Na Praia do Mariscal, a Rua Âmbar acolhe diferentes visitantes, o leitor e o personagem Miro e outras personagens que saem de velhos contos, aposentos e apólogos. Miro, Valdomiro Silveira, é um menino que mora na rua Ametista e tem uma fábrica de miniaturas escondida debaixo da cama... Em uma caixa, ele guarda as ferramentas. Em outra, as réplicas de panela, chaleira, bule, frigideira, caneca de três asas, objetos e brinquedos feitos de latinhas de alumínio que saem a falar, a confabular sabedorias e dúvidas, filosofias da vida. E saem a correr mundo também. Onde o menino poderia reencontrar seu jarro, o balde e uma panela que sumiram?

Pois na Rua Âmbar tem uma casa: a casa do poço onde morou gente e já não mora mais ninguém. Diziam, assombrada! Miro encontra uma formiga-ruiva à janela, olhando a paisagem à espera de uma prosa. E, nas sombras de um quarto, o menino conhece uma figura que há muito se transforma, como Nereu e lagarta, tipo coisa para viver a vida dos outros, sempre azul e gaivota no futuro. E tem, ou tinha, uma tainha. Então, uma bruxa – que é igual e diferente às outras bruxas que conhecemos, a bruxa da Costa Esmeralda, com o bem e o mal misturados nas entranhas... Ah, as bruxas de Eloí Bocheco viram e reviram seus textos, desde os primeiros! Na poeira do assoalho aberta em ilhas com os passos do menino, os diálogos se iluminam.
— Você acha ruim nascer falando?
— Não. Acho normal. Ainda mais no seu caso que, com todo o respeito, tem a boca grande.
— É mesmo, eu me acabo em boca. Mas, mudando de assunto, me conte sobre sua vida.
— Ah, eu era um pensamento...
— Um pensamento?!
— Isso mesmo. O Miro estava andando à beira-mar e pensando. Andando e pensando. Aí, um pensamento do Miro caiu no mar e virou concha. Essa concha sou eu.
Outras pessoas igualmente passam pela Rua Âmbar. Como gente de ficção, os veranistas vão e vem, uns voltam, outros não, como ondas, famílias, cotidianos a cada estação. Por exemplo, as três crianças da família Trololó da casa número 109. Este é o pé da história que passeia na realidade, com Isa, Matita e Quim, envolvidos na divisão de tarefas, notícias da televisão e sonhos que buscam o futuro. Mas a vida aí não se limita, imita o pulo do saci, vê rã voando feito borboleta sobre um pé de jasmim.


A prosa de Eloí é cheia de figuras e diálogos, é prosa feita de lenga-lenga na sua estrutura e costura. E acompanhe Miro pedalando a bicicleta pelas ruas em busca de amigos, Miro o menino de água do mar e maré. E tempestade que se arma nos sentimentos. É quando estronda a velha voz de um pescador, como que vinda de longe, anunciando o “encantamento” do pai. Foi o gigante que despertara em seu sonho, dias antes, que afundou o barco em alto-mar, fora ele, apenas ele, a quem podemos chamar pressentimento...

Eloí Elisabet Bocheco está segura dos segredos da vida, a sua verdade pessoal, e a compartilha com poesia: a transformação dos objetos em coisas novas, do carbono que vibra inteligentemente às plantas, da resina aos polímeros longevos do âmbar, da água aos animais, do humano em humanidade. E assim é bonito como o sol se elevando manhãzinha, sempre, mesmo sem a gente ver sua verdadeira cor.

* * *

20 de março de 2014

“Tomara no céu esse tempo volte.”

O’ABRE ASPAS para Adélia Prado


O narrador de Adélia Prado diz que lembrança não faz fila. O narrador de Adélia é Carmela Letícia, mas tão poucas vezes ela fazia conta que tinha nome duplo. Carmela gostava do cheiro de banana madura e ponta fresca de lápis que a escola tinha. Numa visão de doçuras sobre os livros que as meninas liam, em 1942, 1945...


“O livro mais lindo que li no Grupo foi As Reinações de Narizinho, do Monteiro Lobato, que é um nome bom de falar e ninguém esquece, nem dele, nem das estórias que inventou. Ah, apareceu também por lá um livro ótimo que se chamava – que bobagem: que se chamava não, que se chama até hoje Coração. Desconfiei que ‘coração’ significava outra coisa e não era sobre coração, este que dispara quando a gente corre. Mas não sabia como perguntar sobre este problema, não achava as palavras e falei assim para Dona Nadir, professora do quarto ano: Donadir, esse coração do livro é coração, coração mesmo, ou coração outra coisa?” (Adélia Prado) CARMELA VAI À ESCOLA, 2011.


Olhai os lírios da lembrança e das imagens de Elisabeth Teixeira, Prêmio Jabuti 2012 (Melhor Ilustração) ao lado de Marilda Castanha e Lúcia Hiratsuka.

O.O ilustrações do livro [veja+aqui]

18 de março de 2014

uma baleia para visitar

Peter O. Sagae


Algo que não se consegue apanhar com os olhos, o que é?


O narrador que conta a VISITA À BALEIA, em seu duplo testemunho e dupla textualidade, velho e menino, sugere a este leitor que é o passado. De tempos longínquos, ou um dia ontem, não importa. Enquanto o tempo passa, a memória inventa – e esta é toda a lição que não se aprende nos bancos escolares...


Comecemos por um ponto que não é o mesmo por onde começa o conto, mas é objetivo saber: o menino César frequentava a escola e desobedecia, por necessidade da imaginação, a falta de ventura e aventuras dos infrutíferos temas de composição demandados pela professora. É assim que Paulo Venturelli (2012) alia-se a uma tradição de narrativas, como Conto de escola, de Machado de Assis (1884), ou Cazuza, de Viriato Corrêa (1938). Na literatura, a escola não tem sido representada com a doçura de uma paisagem para explorações, mas um mundo em clausura, talvez como na vida, um espaço presidiário. Por isso, penso na estratégia do autor em nos fazer adentrar e lembrar uma velha sala de aula somente nos últimos parágrafos da narração. E não seria à toa que, aliás, o conto principia evocando a ruptura com o confinamento diário: “Eu acabava de botar o ponto final nos deveres da escola, quando meu pai chegou com a notícia...”


É preciso dizer como, da maneira de apresentar o mundo, nasce igualmente a linguagem do autor. Frases longas, quantas vezes, mesmo, tropiquei após um verbo, inseguro do complemento nominal, onde era substantivo, onde fosse comentário do narrador. Paulo Venturelli escreve, da primeira cena à garupa da bicicleta, como uma ‘escada bamboleante’ por onde o leitor logo se apinha e sobe à narrativa. Contudo, o passeio que se faz da casa até a praça para ver a tal baleia, debaixo da lona verde do circo que se fixou naquela cidade pequena do interior, ora, esse passeio para o leitor é uma coisa como a passarela de corda grossa, a ponte que dará ao outro lado do conto, ou seja, que levará o leitor pela memória de César a visitar a baleia!

A narrativa é refletida na estrutura da narração. O tão aguardado momento de ver o extraordinário é desviado das vistas do leitor por artimanhas do narrador que recria pessoas, diálogos, situações, novelos de histórias e sentimentos de uma pequena cidade onde todos se conheciam e se viam nas ruas, entre automóveis e cotovelos, no centro, na igreja, na sorveteria, no cinema, no circo... Cada detalhe remetendo a outros episódios de família e vizinhos. São pequenas tábuas reticentes, narrativas intercaladas. Talvez exista na escritura de Venturelli uma intenção. De limpeza.

“Então entendi: estávamos passando por cima da baleia e, nela, nada se movia. Imensa corcova, como coxilha deslocada, oferecia sua pele sem brilho, com certas manchas esbranquiçadas aqui e ali. Acho que alguma gaivota fez cocô, jogaram água na intenção de limpeza, e a coisa ficou escorrida. Onde estava a cabeça, o rabo? Olhei para um lado e outro. Tudo era igual.”

A pergunta sobrevém: era verdade, era baleia? É algo ela também que não se pode alcançar com os olhos? Mas a verdade aqui é outra: ponto de vista de velho, ponto de vista de menino. A história se duplica no confronto e na passagem de um narrador-personagem, em tom de memória, para o personagem-autor de suas aventuras. O velho quer contar um fato, circundado de outras lembranças, mas o menino quer tão só contar textos, tipo coisa que César tem apenas uma memória para outras histórias, como Moby Dick, Jonas, Pinóquio... A narrativa encerra uma abertura, no escuro onde a poeira dança em um típico halo de lusco-fusco que é a intertextualidade. E, portanto, tanto verdade, quanto não verdade, essa visita à baleia. Nenhuma voz desmente o acontecimento. Visitam-se reciprocamente.



VISITA À BALEIA, de Paulo Venturelli, foi ilustrado por Nelson Cruz (Positivo, 2012). É um livro infantil para crianças amadurecidas que conquistou repercussão e estima da crítica, em 2013, com o Prêmio FNLIJ “Ofélia Fontes” Melhor para Crianças e Melhor Ilustração (Hors-Concours), 30 Melhores Livros do Ano da revista Crescer e o segundo lugar do Prêmio Jabuti (Melhor Livro Infantil). O autor também foi selecionado para a Lista de Honra 2014 do IBBY, recebendo um certificado na Cidade do México, no próximo setembro.

* * *

“Mais um tempinho e chegamos. Desviando a cara do tronco do pai que ziguezagueava, se contorcendo para os lados, em cada pedalada, enxerguei ao longe a fila imensa, tão longa a ponto de atravessar a praça que ficava em frente do Café Pigalle. Senti aperto na boca do estômago...”

13 de março de 2014

deram os peixes a voar

O.O Sagae: Ilutrações Comparadas

O peixe do poeta se pescava com palavras dentro d’água, morria afogado no ar. Também ele dizia em verdade e prosa: “Um dia na vida de um peixe dá para viver muita coisa.” Não sei quando, em que rio onde, deram os peixes a voar pela imaginação que jamais adormece nas páginas dos livros ilustrados para crianças. Olhos são mesmo peixinhos. Do dentro de meninos e meninas agora escorrem os cardumes em algo de céu e calabouço. É tempo de melancolia.


Ilustração de Alicia Baladan realizada em 2011 para Céu menino, do poeta italiano Alessandro Riccioni (Pulo do Gato, 2013).


Thais Beltrame para Benjamin, poema com desenhos e músicas, narrativa de Biagio D’Angelo (Melhoramentos, 2011). [saiba+]
 

Alexandre Rampazo nas ilustrações para Caixinha de guardar o tempo, de Alessandra Roscoe (Gaivota, 2013). [saiba+]

11 de março de 2014

tempo para guardar

* peter o.sagae


Alessandra Roscoe pertence a uma geração recente de escritores de livros para crianças e sua produção ainda não se definiu claramente enquanto linguagem, propósito e representação simbólica de um mundo que se quer compartilhar com os leitores. Lemos seus livros com vagar e à espera de alguma surpresa. Desta vez, conseguiu delicadezas para fazer pensar em sua Caixinha de guardar o tempo (Gaivota, 2013) que ouso chamar de livro-mensagem para crianças, em especial, meninas de todas as idades.

Existe um fio de narrativa muito tênue a costurar texto e a experiência da personagem Sofia. A prosa ecoa em alegria, fantasia, nos tecidos que a menina tecia, estendendo um quê poético ao descrever os extremos do caminho pela vida. Dos dias de brincadeiras, quando todo o tempo do mundo é vasto, sem fim, aos momentos da compreensão madura de que o tempo, afinal, passou. No caminho de Sofia, o pensamento inventou, inventou-se como caixa para guardar tudo o que ela pudesse viver do melhor. Saudade, lembrança e memória representam três faces da tranquilidade da personagem. E assim parece bom.


As ilustrações de Alexandre Rampazo revelam a dimensão subjetiva da memória: Sofia de cabelos azuis, tão solta e presa aos objetos que se espalham pelo espaço da página, como na metáfora do barco ancorado por um relógio mergulhado na areia, areia pálida, cálida, que se transforma na mão da velha Sofia. Ou menina que se guarda dentro da caixa, encaixada dentro de outra caixa e assim sucessivamente... Porém, texto e imagem buscando-se pela suavidade, encontram-se em um projeto gráfico de linhas duras que não é nem colcha de retalhos, nem páginas ladrilhadas para o meu olhar passar!


Pois, então, um livro leva a ler outro livro. E outra caixinha de Alessandra Roscoe aqui se abre: História pra boi casar (Peirópolis, 2010), com ilustrações de Mariana Zanetti, lembrando o colorido dos bordados que recobrem a carcaça do boi maranhense. Livro-CD que brinca com a tradição de brinquedos falados e cantigas folclóricas. Versos antigos são recortados e costurados numa toada nova. O que pode acontecer quando o boi da cara amarela decidir se casar com a vaca que pulou a janela? A autora inventa e canta sua lengalenga com voz de ninar o passado: a memória presente.


tempo para jacaré

Dobras da Leitura 57, nov. 2008


Por que o jacaré se arrasta de sono durante o dia? Sua fama de dorminhoco é tão grande que, para as bandas do Ceará, ficou conhecido como jacaré bilé — o que significa dizer, tonto, tonto de tanto sono! Quando bate o sol na cabeça, ele fecha os olhos. Só vai acordar, depois que a tarde se for... E sabe por quê?


Vamos descobrir que o jacaré também é abilolado das ideias, com o livro de Alessandra Roscoe: O jacaré Bilé (Biruta, 2008), ilustrado digitalmente, em cores vibrantes, por Ítalo Cajueiro... Cheio artimanhas, o coelho desejava escapar da bocarra cheia de dentes e contou que a lua – sempre tão redonda, branca, bonita no céu – era feita de tapioca! E o Bilé acreditou! E passava toda noite, a noite inteira, tentando abocanhar a lua...


Essa narrativa possui o gesto verbal da lenda, ou conto etiológico, que explica o surgimento dos hábitos e crenças de um povo, ou das características de alguns animais. Enganado pela argúcia do coelho, o jacaré bocudo agitava as águas do açude a cada vez que "provava" a tapioca da lua – que, então, voltava a reaparecer inteira e redonda, e o jacaré lá ia abocanhar mais um pedaço, mais uma vez. Assim, com a barriga cheia (de água, né?), o Bilé ia se fartando contra a fome até dormir sossegado que era uma beleza. Por isso, durante o dia, o jacaré mal consegue se mexer. De tão cansado que está.

***

FOTO 1: O livro O jacaré Bilé, de Alessandra Roscoe, que o contador de histórias Maurício Leite levou para as mãos de crianças e adolescentes em Angola. Do blog [contos, cantos e encantos].
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