20 de agosto de 2011

a felicidade de versos que brincam

peter o.sagae


A poética brasileira para a infância tem íntima e fortemente seguido em duas direções: a tradição popular em versos, com suas trovas e quadrinhas cantadas em roda, ou a liberdade apregoada pelos já centenários poetas do modernismo, produzindo frutos de variados sabores, uns bons, outros nem tanto, para os livros e para os discos, em páginas impressas ou nos arquivos.mp3. Mas ainda são poucos os escritores que se saem bem sucedidos ao entrelaçar conscientemente esses dois caminhos – e aqui cochicho o nome de Eloí Bocheco.

É preciso reconhecer que o folclore impõe uma métrica constante, seja trissílabos, heroico quebrado, raras vezes mais que uma redondilha maior. Também é preciso saber que, a despeito do cumprimento irregular dos versos livres, a poesia modernista caracteriza-se por um rigoroso padrão rítmico-melódico. Ambos os projetos artísticos exigem apurados ouvidos... E dicção e fôlego e desejo de soar ingenuamente, mesmo depois de exaustiva elaboração. E Eloí E. Bocheco consegue, mais e mais, transmitir de forma fácil a felicidade de versos que brincam como nossos velhos conhecidos.


Neste POMAR DE BRINQUEDO, ilustrado por Taline Schubach (Larousse, 2009, fora de catálogo), dança o limão o bota-aqui, ai bota ali o teu pezinho, um passo pra frente, um passo pro lado, com a tangerina; saboreamos um céu inteiro de estrelas de carambola ou abrimos uma caixinha com lenço bordado, quando sentimos vontade de chorar pitangas... Frutas em cores, caroço na terra, em voo, da árvore no quintal à janela, frutas em versos, beleza em penca, quem pensa, com tanto humor e disparate esse baile? Pela cerca que não há, a imaginação da autora catarinense arruma sonoridades bem jeitosas de lá pra cá e, mesmo quando abre mão da rima, não perde o requebrado lúdico do seu fazer musicado.



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