17 de maio de 2010

E ele não conseguiu deixar de ver...

por Peter O'Sagae

Katherine Paterson
trad. Ana Maria Machado
Ponte para Terabítia
Moderna, 1999
2.ed. Salamandra, 2006
ISBN 9788516050528
160p.


Não importa o frio das manhãs de férias, nem os pés descalços: Jess Aarons se levanta e dispara pelo pasto extenso, quase todo já seco e marrom... De coração afogueado, o menino vai compreendendo como o vento e o balanço do corpo podem ajudá-lo a ser o corredor mais veloz de toda a Escola Primária do Riacho da Cotovia. Jess tem as pernas bem compridas e uma determinação sem igual para um menino de 10 anos de idade! Na volta às aulas, entretanto, quem cruza, bem a sua frente, a linha de chegada, é Leslie Burke: uma garota que acabara de se mudar, ora essa, para a casa vizinha! Jess não sabia, mas assim começava uma nova temporada em sua vida.

Leslie mudara-se de Washington, com seus pais, para a pacata e recatada comunidade rural do Riacho da Cotovia. É bem verdade que ninguém entendia ao certo o que aquelas pessoas da cidade grande vieram fazer e viver ali. Era uma gente excêntrica, sem aparelho de televisão, ora essa, em uma casa repleta de livros! O fato é que a garota de cabelos curtos como um menino e coruscantes olhos castanhos viria a selar, com Jess, uma das amizades mais bonitas que o destino podia oferecer — e surpreendentemente irá requisitar de volta.

Do outro lado do rio, à beira da floresta escura, as palavras de Leslie criam o reino secreto de Terabítia, onde prevalece a paz, lugar de imaginação e aprendizagem mútua na distância das coisas triviais do cotidiano: em Terabítia, onde Jess e Leslie são soberanos, nem um, nem dois outros colegas, nenhum inimigo, nem a velha professora, nenhuma das quatro irmãs de Jess, pode chegar... A ponte para o local sagrado pertence mágica e invisivelmente a eles. Até o dia que o destino ruir!

Livro ganhador da Medalha John Newbery, conferida pela Divisão Infantil da Associação de Bibliotecas Americanas, em 1978, e do Prêmio Hans Christian Andersen 1998, Ponte para Terabítia é uma novela sobre a generosidade e a perseverança. Sob um olhar terno, verista, afetuoso e atento aos detalhes, como é seu próprio discurso, Katherine Paternon aviva o cine-mental de seus leitores com tons de ocre, lavanda, brim e verde que renasce após a chuva.


« Percebeu que ela tinha dito “Jess” uma vez, mas como o ônibus era muito barulhento, deu para fazer de conta que não tinha ouvido. Quando chegou a hora de descer, ele agarrou a mão de May Belle e a puxou para fora, o tempo todo consciente de que Leslie vinha bem atrás. Mas ela não tentou falar com ele de novo, nem os seguiu. Só saiu correndo para a velha casa dos Perkins. Ele não conseguiu deixar de se virar para ver. Ela corria como se isso fizesse parte de sua natureza. Fez com que ele se lembrasse do vôo dos patos selvagens no outono. Tão suave... A palavra “bonito” lhe veio à mente, mas ele a sacudiu para longe, e tratou de ir depressa para casa. »


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